PARAQUEDISTA, CONHECES A TUA HISTÓRIA? (VIII) “BREVETS” ESTRANGEIROS


Base Aérea n.º 3, 1959, o Presidente da República, Almirante Américo Tomás, visita a unidade e o Batalhão de Caçadores Paraquedistas. Na imagem o Capitão Armindo Martins Videira, comandante do BCP, ostenta no seu uniforme camuflado os "brevets" de paraquedista militar francês, espanhol e português.  

Nota prévia: Paraquedista, conheces a tua história?

Este antetítulo identifica uma nova série de pequenos artigos sobre aspectos relativos às Tropas Paraquedistas Portuguesas, alguns ainda não completamente investigados, outros concluídos. Pretendo assim continuar a ajudar a divulgar entre as novas gerações de boinas verdes portugueses a nossa história comum, com base em fontes iconográficas, documentais e orais a que vou tendo acesso. Sem intenção de ordem cronológica ou importância na sua apresentação.

Comentários são bem-vindos: paraconhecesatuahistoria@gmail.com

PARAQUEDISTA, CONHECES A TUA HISTÓRIA? (VIII) “BREVETS” ESTRANGEIROS

Não é invulgar ver militares paraquedistas portugueses ostentando no seu uniforme distintivos de qualificação paraquedista, vulgo “brevet”, estrangeiros. Hoje vou abordar este assunto, o qual não raras vezes cria mal-entendidos até entre os paraquedistas.

“Brevet honorifico”, é um distintivo de qualificação paraquedista, exactamente igual ao “brevet” mas que não foi obtido num curso de paraquedismo, apenas na realização de um ou mais saltos em paraquedas, em circunstâncias que o país que o atribui define.

Cada país estabelece critérios para atribuir os seus “brevets” quer no decurso dos respectivos cursos de paraquedismo militar quer os “brevets honoríficos” nas acções de cooperação. Ao longo dos anos essas exigências têm sido alteradas sobretudo no caso dos honoríficos, de que trata este artigo. Há desde países que exigem vários saltos em paraquedas no seu território, com os seus meios aéreos, largadores e paraquedas, até países em que basta um salto a partir de uma sua aeronave com os seus largadores e paraquedas, seja onde for. E há ainda países que alteram as condições consoante a ocasião, se é no seu território ou no estrangeiro.

Espanha e Itália (na imagem) foram os dois dos países onde durante vários anos mais oficiais, sargentos e praças paraquedistas portugueses realizavam saltos em paraquedas no âmbito de cooperações bilaterais. 

Por regra a atribuição de “brevets” – a quem faz um curso de paraquedismo militar - está centralizada na “escola” [i] de paraquedismo militar (há países que têm mais do que uma unidade com esta missão). Em Portugal também sempre assim foi. Já no respeitante aos “brevets honoríficos” há países onde essa atribuição continua apenas na “escola” (como é o caso português) e países onde essa simbologia pode ser atribuída pelas unidades operacionais. Há vários desses casos com os quais temos cooperações, desde logo Espanha – quer a escola, que é da Força Aérea quer a brigada que é do Exército os podem atribuir – ou da Alemanha que não só os atribuía pela escola como por várias unidades operacionais, entre outras, as companhias de reconhecimento (ver diploma abaixo). Esta situação repete-se em vários outros países. Na realidade quem executa o salto que confere o “brevet honorifico” é um paraquedista já formado. Pode aliás ter centenas ou mesmo milhares de saltos! Isto é relevante porque há países onde se executam alguns saltos em paraquedas no decurso de diversas formações especializadas, não atribuindo, no entanto, por esse facto o “brevet” desse país e respectivo diploma. Um “brevet”, mesmo honorífico, pressupõe sempre também a entrega ao militar que o recebe de um diploma com o seu nome. E veremos adiante porque este documento é importante.

Pioneiros

Os primeiros paraquedistas portugueses foram também os primeiros militares nacionais a usar “brevets” estrangeiros. Fizeram a sua especialização em paraquedismo militar em França e Espanha, entre 1953 e 1955 e depois os que neste último país concluíram o “Curso de Espanha”, os pioneiros das Tropas Paraquedistas Portuguesas, foram “brevetados” com os distintivos de qualificação paraquedista desses países. Antes até de terem conquistado o português, não só porque em 1953 e 1954 ainda não tinha sido criado, como em 1955 só foi imposto aos paraquedistas do “Curso de Espanha” depois de terem conquistado o “Rokiski paracaidista”[1]

Alcantarilla, Escuela Militar de Paracaidismo da Força Aérea espanhola. Em 9 de Julho de 1955 termina o "Curso de Espanha" e estes dois pioneiros posam para a posteridade ostentando os símbolos conquistados. A boina de cor verde, os "brevets" espanhol e português. 

O uso do “brevet” francês e espanhol nos uniformes dos pioneiros portugueses era comum nos primeiros anos de vida do Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP). Há várias imagens da época que o atestam, por regra em cerimónias, dentro e fora da unidade, quer fazendo uso do uniforme n.º 1 e n.º 2 quer do uniforme de serviço de campanha (vulgo “camuflado”, aludindo ao padrão com várias cores). Recorda-se que os boinas verdes portugueses muito cedo começaram a usar o uniforme de campanha em cerimónias, na maioria das vezes com as mangas arregaçadas e também fazendo uso de cordões brancos nas botas e um lenço de pescoço colorido.

Tendo a maioria dos pioneiros obtido o brevet espanhol e alguns o francês – e logo em 1958, mais dois oficiais conquistaram o brasileiro. Os que tinham frequentado o “Curso de Espanha” usavam ainda, ao centro do bolso superior direito um pequeno distintivo metálico, circular, colorido, criado em Espanha, para este curso. Este foi usado no BCP durante algum tempo mas caiu e desuso, o mesmo acontecendo aos “brevets” estrangeiros. Muito esporadicamente um ou outro militar usava pontualmente estes “brevets”.

O coronel Monteiro Robalo havia conquistado o "brevet" francês em 1953 e de seguida o de "monitor"
(instrutor), curso que incluía saltos de abertura manual, o que em França conferia (e confere) a atribuição de um "brevet" especifico. É esse que o coronel Robalo usa na fotografia e usava frequentemente no BCP e mesmo no RCP.  

Quer no RUFA - Regulamento de Uniformes da Força Aérea - de 1954, em vigor quando o Batalhão de Caçadores Paraquedista, unidade da Força Aérea, foi criado, quer no Decreto de criação das Tropas Paraquedistas (1955) que estabelece o “brevet”, distintivo de especialidade de paraquedista português, quer ainda no Despacho do Secretário de Estado da Aeronáutica de 1961 que era um autêntico regulamento de uniformes para as tropas paraquedistas, o uso de “brevets” estrangeiros não estava previsto. O mesmo aliás nos sucessivos RUFA que foram publicados até 1993. O uso era consentido pela hierarquia de acordo com o que se poderá designar por “usos e costumes”.

Usos e costumes, anos 50 a 70

Em Alcantarilla, (Julho de 1955) tendo o “rokiski” sido imposto primeiro, e do lado direito onde os espanhóis o usavam, os portugueses colocaram depois o nacional do lado esquerdo. Mais tarde, em Novembro de 1955, o Decreto fundador das Tropas Paraquedistas veio estabelecer o lado direito para o uso do “distintivo de especialidade”, o “brevet” português, passando a ser usado do lado direito. Até ao RUFA de 1978, inclusive, o “brevet” de paraquedista esteve sempre previsto na legislação para uso no lado direito. No RUFA de 1991 passou a ser usado do lado esquerdo – como curiosamente, assim tinha sido usado inicialmente – no sentido de haver uniformização com pilotos e navegadores que usavam os seus do lado esquerdo.

Com o aumento de efectivos do BCP por força dos cursos de paraquedismo realizados em Tancos (o primeiro em 1957), e depois ainda mais expressivo, com a formação em 1961 do Regimento de Caçadores Paraquedistas (RCP) e dos BCP’s  do Ultramar, a grande massa dos boinas verdes portugueses apenas tinha o “brevet” português. Passados os primeiros anos os “brevets” estrangeiros desapareceram dos uniformes. Mas…há sempre um mas, as fotografias de várias épocas confirmam-no, havia ocasiões em que esse uso era autorizado/tolerado. Não só, mas até pelos comandantes, quer Videira quer Robalo usavam-nos agora do lado esquerdo dando o direito ao nosso – em ocasiões, podemos dizer, mais solenes! Há testemunhos fotográficos desta realidade com vários oficiais e sargentos, mesmo após o início da Guerra do Ultramar, em 1961. Havia orgulho naqueles símbolos!

Em 1962 durante uma visita do Secretário de Estado da Aeronáutica,  Kaúlza de Arriaga, a Angola, o então Segundo-Sargento Cavaco, pioneiro do Curso de Espanha em 1955, usa o "rokiski" (época do Estado Espanhol - Francisco Franco). 

Nos anos 60 e 70 com a participação de oficiais e sargentos do RCP em campeonatos e estágios de paraquedismo (destaca-se o CISM: Conseil International du Sport Militaire - Conselho Internacional do Desporto Militar), em França, Brasil, Alemanha e Bélgica, alguns, poucos, “brevets” estrangeiros foram conquistados. No entanto como se compreenderá em tempos de Guerra do Ultramar, as acções de cooperação internacional eram limitadas a poucos militares, logo os boinas verdes com novos “brevets” estrangeiros foram muito poucos. Ainda nesta época oficiais paraquedistas realizaram cursos ou estágios no estrangeiro, por exemplo Brasil e França, que incluíram a qualificação paraquedista, obtendo os respectivos distintivos.

Não havendo legislação da Força Aérea ou mesmo directivas internas do RCP, o que passou a ser autorizado verbalmente, neste período – uso pontual de “brevets” estrangeiros por ocasião de visitas de militares estrangeiros ou em visitas ao estrangeiro aos países de origem dos “brevets” – acabou por se ir consolidando.

Fausto Marques, paraquedista militar português n.º 3, foi em 1953 o segundo militar português a realizar saltos de abertura manual, em Pau, França, no mesmo curso que Monteiro Robalo. Em 1974 regressou à arma de origem e terminou a sua carreira em general. Na imagem, já no Exército, Fausto Marques ostenta, além do "brevet" português, o "brevet" de monitor (instrutor) de paraquedismo francês. 

Corpo de Tropas Paraquedistas, anos 70 a 90

Após a criação do Corpo de Tropas Paraquedistas (CTP) e as enormes transformações que esta nova organização militar inserida na Força Aérea iniciou a partir de 1975 (de jure) mas sobretudo de 1977/1978, também neste caso dos “brevets” estrangeiros iria haver novidades!

Uma das vertentes que o CTP e a sua Brigada de Paraquedistas Ligeira (BRIPARAS) desenvolveu como nunca em Portugal, foi a cooperação internacional com unidades congéneres. Não apenas com quadros em cursos e competições desportivas-militares, áreas em que houve um grande incremento, mas em exercícios multinacionais, nos quais anualmente a BRIPARAS empenhava companhias de paraquedistas. Primeiro com os paraquedistas espanhóis, depois italianos, belgas, alemães e franceses. Estas cooperações tiveram características e frequências diferentes, foi um processo gradual, mas por regra uma companhia nossa actuava nesse país e uma desse país (ou mesmo um batalhão) em Portugal. Não vou detalhar, há várias excepções e particularidades, para o caso em apreço o que interessa é a atribuição de “brevets” estrangeiros a portugueses e nossos a estrangeiros. Quase e sempre estas cooperações incluíam o salto em paraquedas. Aliás uma das motivações que alguns desses países tinham para este tipo de “treino cruzado” era exactamente o poderem realizar saltos em paraquedas, muitos saltos, em Portugal. Isto era particularmente visível nos belgas e alemães, porque tinham dificuldades em realiza saltos a partir de aeronaves C-130 nos seus países, que aliás traziam a Portugal. Neste período deslocávamos companhias a Itália e realizávamos saltos em paraquedas neste país, quase e sempre mo âmbito de cooperação bilateral inserida em exercícios da NATO. Com os franceses a primeira cooperação deste tipo “por companhias”, fez-se já em 1993 e teve pouca continuidade. No âmbito destas cooperações por regra também se realizavam saltos de abertura manual, quer em Portugal quer no estrangeiro.

Nessas cooperações algumas vezes também havia a possibilidade de realizar saltos de abertura manual. (na foto, em Itália) 

Base Escola de Tropas Paraquedistas, 1985. No final de uma cooperação com as Special Forces US um green beret US impõe o brevet de paraquedistas dos Estados Unidos da América a um boina verde português. O CTP iniciou a cooperação com as Forças Especiais de vários países (EUA, Reino Unido, França e outras), mantendo-se depois algumas destas no Exército. 

Toda esta actividade aeroterrestre originou que um grande número de paraquedistas portugueses passou a realizar saltos em paraquedas em aviões militares estrangeiros e com paraquedas estrangeiros, em Portugal e nesses países.

Pode assim dizer-se, generalizando, que um boina verde português no período do CTP podia obter um “brevet” estrangeiro por uma das seguintes vias:

- Frequentando um curso de paraquedismo no estrangeiro, o que aconteceu com vários oficiais e sargentos, por exemplo em França, EUA e Brasil;

- Saltando em paraquedas no estrangeiro no decurso de uma acção de cooperação, por regra exercícios que podiam ser de escalão companhia ou pelotão (em Espanha, a partir de 1977; Itália, a partir de 1981; Bélgica, a partir de 1982; Alemanha, a partir de 1989) ou de grupos especializados (por exemplo no “Challenge” Interescolas de Paraquedismo – vários países; ou no “Volant Rodeo” – EUA; ou no “Schinderhannes” – Alemanha; ou em campeonatos internacionais militares de queda-livre – vários países);

- Saltando em paraquedas em Portugal a partir de aeronaves estrangeiras com largadores e paraquedas estrangeiros no âmbito das cooperações já referidas.


Exercício Lusitânia 93 no Campo Militar de San Gregório (Saragoça). Depois de uma semana de exercício táctico e salto em paraquedas a partir de C-130 espanhol na ZL do próprio campo de manobras, a cerimónia de encerramento da cooperação e entrega dos "rokiskis" aos paraquedistas portugueses. 

Respeitando assim as regras que cada país impunha número de saltos, local do salto, nacionalidade da aeronave, dos largadores  e paraquedas – e podiam ser muito diversas, passou a haver anualmente um grande número de paraquedistas portugueses a conquistar o que convencionou designar por “brevet honorifico”. Ou seja, é um “brevet” estrangeiro que não foi obtido num curso de paraquedismo mas apenas na realização de um ou mais saltos em paraquedas.

Entre 1977 e 1993 muitos oficiais, sargentos e praças do Corpo de Tropas Paraquedistas conquistaram o "brevet" de paraquedista militar espanhol (época da Monarquia, na foto), a maioria em exercícios com a Brigada Paracaidista do Exército mas alguns (por regra pessoal que integrava as equipas de queda livre e/ou Challenge) em cooperações com a Escuela Militar de Paracaidismo «Mendez Parada» da Força Aérea. 

No fundo estas atribuições de distintivos de paraquedistas serviam e servem para reforçar aquilo a que poderemos chamar um “espírito de corpo universal”, o do paraquedista militar.  As semelhanças entre paraquedistas de diferentes países são evidentes e isso faz parte da mística paraquedista. Também agradava a muitos paraquedistas que assim viam as sua fardas mais vistosas! Note-se que nesses tempos do CTP não era o caso dos paraquedistas portugueses! No CTP só se podiam usar esses “brevets” em raras ocasiões, quase e nunca para a maioria. Mas, reconheça-se, conferia alguma vaidade ao militar dizer que tinha saltado nestas condições e tal era reconhecido não só pelo distintivo – mesmo que estivesse guardado – como pelo diploma e averbamento oficial nos seus documentos de matrícula. Passava a integrar o curriculum!

Note-se que havia da nossa parte reciprocidade, isto é, também nós conferíamos, e conferimos, “brevets” honoríficos a paraquedistas estrangeiros, quase e sempre ao longo dos anos, se:

- Realizassem saltos em paraquedas (bastava um) em Portugal, a partir de avião português, com paraquedas português e largadores portugueses;

- Saltando em Portugal a partir de avião estrangeiro, com paraquedas e largadores portugueses;

- Saltando no estrangeiro a partir de avião português, com paraquedas e largadores portugueses;

- Saltando no estrangeiro em avião estrangeiro mas com paraquedas português e largadores portugueses.

C-130 da "Componente Aérea" das Forças Armadas da Bélgica a largar paraquedistas na ZL do Arripiado em 2011. 

Neste período do CTP, na Força Aérea e também nas Tropas Paraquedistas, nos uniformes nunca foram autorizadas insígnias que não as previstas no RUFA. Isto é, o militar paraquedista apenas usava no uniforme, além do distintivo de posto, três distintivos: identificação (nome); identificação de unidade, vulgo “crachat”; de qualificação paraquedista, vulgo “brevet”. Se as tivesse podia ainda usar as condecorações e por exemplo no N.º 1 usava o distintivo de especialidade, paraquedas com cota de armas, vulgo “moscas” e eventualmente o “Portugal”. Houve uma excepção extra-RUFA mas autorizada e regulada por NEP do CTP: o distintivo de identificação do Corpo de Tropas Paraquedistas para uso na manga esquerda (junto ao ombro) nos Uniformes N.º 1 e N.º 2.

Imposição de "brevets" militares italianos aos boinas verdes portugueses que saltaram com a Companhia Alpina Paraquedista em 1992. A cooperação com os paraquedistas italianos decorria, por regra, com militares da Brigada Folgore e desta Companhia Alpina Paraquedista. Curiosamente, sendo paraquedistas, usavam o boné alpino e não a boina

Quanto aos brevets estrangeiros, omissos na legislação e mesmo regulamentações internas do CTP, pode-se dizer que se mantiveram os “usos e costumes” dos tempos do BCP e RCP. Os militares que os conquistavam podiam usá-los no uniforme apenas no dia em que os recebiam, em homenagem a quem os tinha atribuído. Depois disto apenas se houvesse um evento com a presença de militares desse país, em Portugal ou no estrangeiro. Acresce que o militar paraquedista português ao receber um “brevet” estrangeiro, procedia depois à entrega do respectivo diploma nos serviços administrativos da sua unidade para se legalizar esse facto, com publicação em Ordem de Serviço e posterior registo nos documentos de matrícula. Assim ficava o processo completo e estas regras eram feitas cumprir pela acção de comando nos diversos patamares da hierarquia.

Em 1993 uma delegação de paraquedistas do CTP que haviam realizado saltos em paraquedas na Floresta Negra com a Companhia de Reconhecimento 200 (uma unidade criada em tempos da Guerra Fria e ainda activada nesta altura), já ostentando o "brevet" alemão, são recebidos pelo Presidente da Camara de Calw. 

É difícil saber quantos oficiais, sargentos e praças portugueses conquistaram “brevets” estrangeiros entre 1977 e 1993 nesses anos do CTP, mas, olhando para os efectivos empenhados anualmente nestas cooperações, em Portugal e no estrangeiro, imagino que certamente um número a rondar os 2.500 ou mesmo mais.

Actualidade

Com a transferência das Tropas Paraquedistas da Força Aérea para o Exército em 1 de Janeiro de 1994 esta situação não conheceu alterações em termos das condições em que os militares recebiam os “brevets” estrangeiros. Houve, no entanto, duas grandes mudanças, a primeira foi a redução das cooperações internacionais regulares no estrangeiro, as quais se deveram não só a questões orçamentais ou opções da tutela mas também pelo facto de começarmos – logo em 1996 – a ter muitos efectivos empenhados em sucessivas missões expedicionárias, inviabilizando a participação noutras actividades. Ainda assim mantiveram-se cooperações em Portugal com efectivos relativamente elevados dos paraquedistas belgas e também alemães, e outros mas com números menos significativos e menos regulares.

A grande alteração com a inserção das Tropas Paraquedistas no Exército residiu no facto dos "brevets" estrangeiros poderem ser usados nos uniformes. Oficiais, sargentos e praças, mais novos como mais velhos, aderiram assim a esta nova prática, seguindo as regras estabelecidas para o efeito (ver texto).  

A segunda alteração e a mais visível tem a ver com o uso dos distintivos conquistados, os quais, podem ser usados em permanência e na quantidade que o militar deseje. Ou seja, um paraquedista que tenha por exemplo 5 ou mesmo mais brevets estrangeiros, pode usá-los todos, juntamente com outros distintivos a que tenha direito. De notar que este procedimento não é exclusivo de Portugal – por exemplo em Espanha é semelhante – embora haja países que os limitam, como França.  Ainda outro sinal dos tempos, com a entrada na NATO de novos países do antigo Leste europeu os paraquedistas portugueses passaram a ter algumas actividades com os paraquedistas desses países e assim, novos “brevets” passaram a ser vistos nos nossos uniformes.

Se as condições de atribuição dos “brevets honoríficos” se mantiveram semelhantes às que vinham de trás, os procedimentos administrativos para o uso e averbamento também. Acresce que actualmente os boinas verdes que conquistam esses “brevets” solicitam através do canal de comando autorização para o poder usar no uniforme e sendo deferido assim o podem fazer.

Os "brevets honoríficos" que o autor, mais um entre muitos, conquistou durante a sua carreira no CTP. Note-se que os diplomas na imagem tem as dimensões alteradas por razões meramente estéticas. Destes o belga deveu-se a saltos em paraquedas em Portugal nas condições exigidas pelos belgas e os restantes nos respectivos países em exercícios (Itália e Espanha) e acções de cooperação (Alemanha).

Concluindo

Desde que os “brevets honoríficos” começaram a ter expressão em Portugal, nos finais dos anos 70, que as condições em relação à sua conquista se mantiveram inalteráveis até à actualidade. O seu uso foi permitido a partir de 1994 contrariando a prática anterior – e as evidências mostram que em geral o seu uso é transversal em termos de idades e postos. Se os paraquedistas – portugueses e muitos outros – os usam nos seus uniformes é porque nisso têm orgulho. É inegável que a conquista, atribuição e uso dos “brevets honoríficos” é um elemento importante na consolidação da “mística paraquedista”.

 Miguel Silva Machado, Torres Vedras, 13 de Setembro de 2024

Nota final : Agradeço o apoio prestado na elaboração deste artigo ao António Sucena do Carmo e ao Regimento de Paraquedistas. Ao Alfredo Serrano Rosa fico reconhecido pela disponibilização das suas fotografias agora publicadas e muitas outras do seu arquivo cuja consulta permite esclarecer relevantes aspectos sobre este assunto.

 

 

 

 

 



[1] En lenguaje coloquial se conoce como "Rokiski" (con el paso del tiempo ha derivado a “Roquisqui” y lo podemos encontrar escrito de ambas formas) al emblema de plata que llevan sobre el uniforme aquellos que están en posesión de algún título aeronáutico, y el nombre viene de Luis Rokiski, un estupendo grabador que, entre el año 1939 y el de su muerte hacia 1965, realizó los emblemas "de pecho" para todos los aviadores de aquella época en su taller del número 27 de la calle de Carretas de Madrid (Centro Universitario de la Defensa "San Javier" (2019/01).



[i] Aqui o termo “escola” aplica-se naturalmente à unidade de formação, a qual pode ter as mais variadas designações. Actualmente em Portugal é o Regimento de Paraquedistas, o qual como se sabe sucedeu à Escola de Tropas Paraquedistas, Escola de Tropas Aerotransportadas, Base Escola de Tropas Paraquedistas, Regimento de Caçadores Paraquedistas e Batalhão de Caçadores Paraquedistas.

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