PARAQUEDISTA, CONHECES A TUA HISTÓRIA? (V) UMA FOTOGRAFIA!

 

Nota prévia: Paraquedista, conheces a tua história?

Este antetítulo identifica uma nova série de pequenos artigos sobre aspectos relativos às Tropas Paraquedistas Portuguesas, alguns ainda não completamente investigados, outros concluídos. Pretendo assim continuar a ajudar a divulgar entre as novas gerações de boinas verdes portugueses a nossa história comum, com base em fontes iconográficas, documentais e orais a que vou tendo acesso. Sem intenção de ordem cronológica ou importância na sua apresentação.

Comentários são bem-vindos: paraconhecesatuahistoria@gmail.com

PARAQUEDISTA, CONHECES A TUA HISTÓRIA? (V) UMA FOTOGRAFIA!

Hoje um tema algo diferente do que tenho tratado nesta série de artigos, é um assunto mais “micro”, um olhar para o detalhe, a pequena grande história de uma fotografia! Há algumas fotografias que ficaram na história das tropas paraquedistas portuguesas. Por vários motivos e com importâncias certamente diferentes, podia aqui elencar várias e será um trabalho interessante de se fazer. Esta talvez nem seja das mais conhecidas, mas ainda assim é sobre ela que me vou hoje debruçar.

Em 1990/1991 no decorrer do trabalho de investigação histórica e compilação de fotos e outros elementos respeitantes às Tropas Paraquedistas, que o Sucena do Carmo, então primeiro-sargento, e eu, então capitão, nos propusemos fazer e o Comando do Corpo de Tropas Paraquedistas (CCTP) aprovou, foi publicado o número especial da revista Boina Verde n.º 158 (Jul/Set 1991) exclusivamente dedicado ao 38.º aniversário das Tropas Paraquedistas Portuguesas.

Esta revista – mais tarde foi publicada em livro – incluía três páginas com desenhos de uniformes das várias épocas desde o Curso de Espanha em 1955 até 1974. O seu autor, o antigo Alferes Miliciano Paraquedista José Macedo Rodrigues, tinha-os feito quando estávamos, ele e eu, colocados na Base Operacional de Tropas Paraquedistas n.º 2 (BOTP 2) mas, não recordo bem, julgo que entretanto já tinha passado à disponibilidade, não houve possibilidade de fazer um último desenho da então actualidade que desejávamos incluir.

Optamos então por uma fotografia para abarcar os anos 90 e pensamos num paraquedista equipado para um salto táctico, imagem que nem necessitava de legenda, distinguia o militar paraquedista de qualquer outro nas Forças Armadas Portuguesas. Além do equipamento que na altura era exclusivo dos paraquedistas, o mesmo acontecia com o uniforme de campanha (camuflado), a espingarda 5.56mm (no saco de arma mas referida na legenda), o capacete de nylon balístico, tudo novidades no panorama militar nacional. Estava equipado com um paraquedas CTP-A2 de fabrico nacional, em Tancos!  Esta foto era muito mais que uma simples imagem, traduzia o "estado da arte" dos paraquedistas desses tempos. E o meu trabalho de relações públicas também era isto...

Eu na altura era oficial de Relações Públicas da BOTP 2, pedi a uma sub-unidade, já nem sei qual, talvez o Batalhão de Paraquedistas 21 ou a Companhia Anti-Carro, um militar para servir de modelo e a foto foi feita pelo Pedro Sottomayor, então fotógrafo da BOTP 2, em São Jacinto (note-se que o paraquedista está equipado com o “MAE-WEST”). E assim esta foto foi incluída na dita revista Boina Verde n.º 158, publicada em Setembro de 1991. A revista foi feita em grandes quantidades, esgotou, e bem assim como o livro que se seguiu, este com tiragem bem menor. Mas a foto... correu mundo! 

A imagem do paraquedista equipado para saltar ficou muito boa, agradou tanto a quem a viu que nesse ano o “logotipo” do exercício Júpiter, desenhado pelo Diogo de Góis Figueira, antigo Furriel Miliciano Paraquedista, incluiu o dito paraquedista, desenhado "a traço" a partir da foto de Pedro Sottomayor.

Pela mesma altura um folheto de recrutamento elaborado pelas Relações Públicas do CCTP, onde trabalhava o António Sucena do Carmo, incluiu a foto da cara desse paraquedista que tinha sido "modelo" da foto em apreço neste artigo (se ele vir este artigo, que se acuse! Obrigado!)

Com o desenho do Diogo Figueira, o Sucena do Carmo lembrou-se de fazer um porta-chaves para as Relações Públicas do CCTP. Com as devidas autorizações do comando, contactou a firma “Gravo” em Lisboa (encerrou actividade em 2022, infelizmente, tinha uma extraordinária qualidade nos trabalhos que executava), fizeram a escultura, depois o cunho em aço, e…nasceu um porta-chaves como pequena “oferta protocolar” do CCTP.

Foi um sucesso tal que no último Dia do CCTP ainda na Força Aérea – comemorado em São Jacinto com o Dia da BOTP 2 a 3SET1993 – o Comando do CTP decidiu mesmo oferecer este porta-chaves aos convidados oficiais. Raramente vi pessoas tão satisfeitas com uma pequena oferta!

Após a transferência para o Exército havendo naturalmente falta de artigos para ofertas com a nova heráldica, a qual ainda demorou algum tempo a estar disponível…novamente o porta-chaves foi utilizado. O paraquedista equipado mantinha-se, o brevet de paraquedista também, mudou-se apenas o texto, inserindo “Comando das Tropas Aerotransportadas e a Brigada Aerotransportada Independente”. O Comando das Tropas Aerotransportadas mandou mesmo fazer alguns, poucos, com uma pelicula verde a envolver o paraquedista, para ofertas mais seleccionadas. 

Nas diferentes versões terão sido manufacturados e distribuídos como oferta cerca de 2.000 destes porta-chaves. 

Hoje, é objecto de colecção!


Miguel Silva Machado, 29MAR2024

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