REVER A HISTÓRIA, O ASSALTO FINAL JÁ COMEÇOU?


Está neste momento em curso uma “campanha” de revisão da História da segunda metade do Século XX português. Mais cedo do que muitos possam julgar isto vai acabar por “bater” nas Forças Armadas como instituição e em muitos veteranos da Guerra do Ultramar como indivíduos.

Porquê agora? 

- A conjuntura é favorável em termos de governo – socialistas com apoio pontual ora do Partido Comunista Português ora do Bloco de Esquerda e início das longas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, certamente com generoso orçamento; 

- Talvez também pelos seus principais dinamizadores sentirem o tempo a fugir, afinal de contas a ordem natural da vida é o que é, para todos, nada a fazer, e querem deixar a “sua história” consolidada para a eternidade;

- E, certamente não menos, a autojustificação dos que foram actores menores na descolonização, os principais já nos deixaram e talvez por isso o assunto tem sido adiado desde então. Criminalizando-se agora e amplificando os actos dos portugueses que combateram - metropolitanos e africanos - é natural que pareçam coisas menos más as nunca investigadas descolonizações (excepto o caso de Timor que foi objecto de extenso relatório e ainda bem!), as guerras civis e ditaduras que ali se instalaram.

Embora isto já venha de trás, começam agora a aparecer publicamente propostas concretas e um claro (derradeiro?) incentivo à acção.




Está bem de ver que as divisões entre portugueses se irão acentuar, estes revisionistas da história esperam que a conjuntura favorável e o seu corrosivo trabalho de décadas na Academia, na Imprensa e nos Partidos Políticos produzam os efeitos que desejam.

Recentemente a face mais visível desta "campanha" tem sido, desde 19 de Julho, a publicação no jornal Público de artigos diários (menos ao domingo) alusivos aos “60 anos da guerra colonial”. Foram inicialmente 12 e agora, afinal, continuam a publicar, fora deste “título”, mas sobre o mesmo tema.

Muito haverá a dizer sobre o que estes historiadores escreveram – alguns de um sectarismo inacreditável – mas agora fico-me pelas ditas propostas. Não restarão grandes dúvidas o resultado será semelhante ao que em Espanha teve a Lei da Memória Histórica. Vão dividir os portugueses, “criminalizar” os combatentes e, ao contrário, “perdoar” os crimes contra os portugueses em África.

Defende-se nas páginas do Público a criação de uma “Comissão de Reconciliação e Verdade” (Mustafah Dhada, Público, 29JUL2021) – desconheço onde iria funcionar, com quem e quem iria pagar tal órgão – e, hoje mesmo (Fernando Rosas, Público, 04AGO2021), pede-se que “…nos 50 anos do 25 de Abril, Portugal proponha aos governos de Angola, Moçambique, Guiné, uma plataforma internacional de estudos e intercâmbio sobre os problemas sensíveis do colonialismo”, certamente a expensas nacionais. 


Não será por mero acaso nem por “amor à história” que o Bloco de Esquerda acaba de pedir a “desclassificação” dos arquivos militares relativos às Campanhas de África até 1975 (Projecto de Resolução do Grupo Parlamentar n.º 1391/XIV/2.ª de 7JUL2021). 



Ou seja, Forças Armadas e antigos combatentes do Ultramar, preparem-se...para o que aí vem. 

Miguel Silva Machado

04AGO2021






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