PEQUENA REFLEXÃO SOBRE A "DEVOLUÇÃO DE ARTIGOS" A PAÍSES TERCEIROS
A história dos países fez-se (e faz-se em muitos locais do
mundo) pela força das armas. Nós não somos excepção. Ao longo dos séculos
ganhamos muitas batalhas, perdemos outras tantas, o saldo é positivo porque
somos independentes.
Os museus militares por exemplo estão cheios de “material
capturado”. Na Europa e fora dela, note-se. Em Luanda vi material português –
até aviões! - exposto no Museu de História Militar de Angola. Em Londres vi
artilharia argentina exposta no Imperial War Museum. Quem visitou o Vietname vê materiais
USA exposto como troféus de guerra. Em Saumur, França a colecção de blindados
capturados aos alemães é enorme. E a lista não tem fim, há em todo o lado para
todos os gostos!
Por cá não faltam museus em que mostramos o material que
capturamos aos franceses e aos castelhanos em várias ocasiões, e também aos asiáticos
e a africanos que ao longo da história combatemos.
Por outro lado fortificações e igrejas construídas pelos
portugueses estão um pouco por todo o mundo, e em muitos países foram
recuperadas – por vezes até com financiamento português – e são motivo de
interesse histórico e turístico nesses países.
A história foi assim, construímos, criamos riqueza, trouxemos
desenvolvimento em muitos locais por onde andamos, matamos, fomos mortos,
escravizamos, fomos escravizados, fomos derrotados ou não quisemos permanecer
nas Américas, Ásia e África, e muito do que os portugueses lá fizeram lá ficou.
Algumas coisas trouxemos, parte delas acabaram em museus
portugueses, muitas estão na posse de particulares há gerações.
Sobretudo na Europa os militares mas também cientistas e toda
a espécie de gente interessada nos países onde andou, trouxe também “obras de
arte”. Muitas certamente capturadas como despojos de guerra, outras adquiridas
aos locais, outras descobertas ou oferecidas. Hoje é impossível determinar com
rigor o que foi trazido de uma ou de outra maneira. E também não será fácil
descortinar se eram privadas ou dos “estados” locais…que estados? Devolver o
quê e a quem?
Os museus portugueses quando querem uma obra de arte que tem
muito interesse para Portugal compram, porque haveremos agora de “devolver” as
que temos? Acresce que a maioria do que possa estar em causa são artigos que
estavam em território nacional, como então era reconhecido no mundo inteiro!
Já me parece com alguma lógica que se possa trocar – ou mesmo
oferecer – obras de arte com museus de outros países que estejam interessados
em artigos na posse do Estado Português. Numa base de cooperação, intercâmbio,
vantagem para os dois lados, e nunca para “devolver o que foi roubado”.
Miguel Silva Machado, 31JAN2020